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Historial    
O Início...

 

A Banda de Musica está em atividade continua desde o ano de 1917,  sendo uma aldeia – Sanguinhedo – uma  terra essencialmente agrícola   é  nas  desfolhadas,  fiadas e espadeladas  que  os mais entusiastas  dão largas  á  sua alegria cantando  e  dançando ao toque  de  concertinas,  ferrinhos,  pandeiretas,  flautas  e  outros  instrumentos artesanais. 


É  nestas  tocatas que se inicia   a  Tuna que,  por uma  década, ocupa  os serões  das noites de inverno ensaiando e divertindo não só os conterrâneos mas também as aldeias circunvizinhas. Com entusiasmo  se acredita que há habilidade  e  jeito para a música e então, mãos-à-obra: a criação da Banda de Música. Mas  adquirir  instrumentos,  farda,  contratar  Maestro,  casa  do  ensaio,  etc...  era   difícil  e  exigia  condições económicas e muita tenacidade. É  nesta  fase  critica  que  surge  o  grande  homem,  o  Sr.  Albertinho  De  Sampaio,  figura  de  prestigio  e  de sensibilidade artística e também muito dedicado às gentes de Sanguinhedo, que dá corpo aos seus anseios dando-lhes força moral e monetária para que o sonho se torne realidade. 
Assim a Banda nasce e faz  a  sua primeira atuação em 1924, nas festas em honra de S.ta Barbara que nesse tempo se festejavam na aldeia. Apesar do abandono provocado pela  imigração, a Banda  continuou  e continua a deliciar as gentes com as  suas  atuações,  do  Minho às  Beiras  e  estrangeiro ela  tem estado presente em romarias, concertos, bailes, etc... São 100 anos de trabalho, de luta  e  de  canseira para  manter  e  prestigiar  este  património  artístico que por nada queremos deixar perder.

 

Para além das atividades culturais e musicais, a Filarmónica tem desenvolvido com grande sucesso atividades de âmbito desportivo, nomeadamente: Caminhadas, Jogos Populares, Futsal Feminino e Masculino e Ciclismo (BTT). 


Uma palavra de apreço aos maestros que por aqui têm passado, ás entidades que nos têm ajudado, aos componentes  do  passado  e  do  presente  pela  colaboração valiosa  que  generosamente souberam  prestar; saibam os vindouros aprender a lição e pô-la em pratica para que a Banda continue a prestigiar a aldeia de Sanguinhedo. Muito haveria  a  dizer mas  o  espaço  é  limitado  e  por  isso  finalizo com o nosso muito obrigado aos familiares  do  Sr. Albertinho  de Sampaio  que tão  gentilmente têm seguido o exemplo do seu progenitor, pois sempre nos têm distinguido com especial carinho e apreço.

              

                                                                                                                                                                                                                                        José Costa - Presidente da Direção

 

O Mestre que viajava de burra...

 

Era preciso muita coragem e determinação para fazer tantas viagens em cima de uma burra, por caminhos atribulados e perigosos, pela iminência da investida de lobos. As viagens para Sanguinhedo numa burra forte e saudável, terão sido o argumento determinante para que João Rebeca aceitasse o convite para Mestre da Banda; a oferta de um transporte tão sugestivo terá apressado uma resposta afirmativa. Era um desafio que vinha mesmo a calhar, pois o Rebeca com esse novo cargo, passaria a ter uma vida mais folgada e sem o risco de passar muitas privações… Perante o forte desejo da população para a criação de uma Banda de Música em Sanguinhedo, o benemérito Alberto Sampaio conseguiu alcançar tão almejado sonho. Alberto Sampaio era homem de fina sensibilidade e sabia que João Rebeca era a pessoa certa para estar à frente de um tão grande empreendimento artístico. Para mais, o músico Rebeca era um cornetim de “estalo” que sabia muito de teoria e de “solfa” pois lia qualquer partitura à primeira vista. Ia fazer falta em Mateus, mas o projeto não lhe deixava muitas dúvidas.

 

Um pouco a contragosto, os de Mateus lá o deixaram ir, ficando o naipe de cornetins debilitado…” O Rebeca, vai fazer falta em Mateus”, pensaram os de cá.” Mas logo se orgulharam por saberem que o Rebeca ia subir a um alto patamar dignificando não só Mateus como a própria música, através do seu carácter de homem honrado e possuidor de muita cultura musical.

 

Durante as conversações, Rebeca ia cogitando: "Não aparecem todos os dias convites destes… mas será que vou aguentar tantas subidas e descidas numa burra que até parece esperta para querer suportar um peso como o meu?” Ponderando bem, o Rebeca acedeu ao convite, quando alguém do grupo lhe terá afiançado que o dinheiro ao fim do mês era batido na hora certa e que a burra até tinha características especiais, sendo bem- mandada, portadora de um andar certinho e de uma boa região lombar. Bem, com estas palavras a resposta era irrecusável. Com um sinal de cabeça e brilho intenso nos olhos o futuro mestre acedeu ao convite, ao mesmo tempo que o seu corpo tremelicava de excitação. Era este o início de um caminho entrelaçado de duas bandas e duas terras: Mateus e Sanguinhedo haviam de se confrontar em acesos despiques, mas sempre em ambiente de respeito mútuo e em clima de amistosa afetividade.

 

Logo após a despedida dos homens, João Rebeca remói…” e se a burra não simpatiza comigo?” Rosnando entre dentes, pronuncia um rol de palavras soltas e sem sentido que não recebem eco na comitiva que entretanto já ia longe e apressada. Nos sonhos dessa noite, a burra (Camila), foi o centro das suas fantasias, em que os dois falavam animadamente, recusando-se a burra a transportar qualquer animal falante…

 

João Rebeca era possuidor de uma nobreza de sentimentos…mas, ir de burra para Sanguinhedo não lhe retirava os melhores atributos de ser um músico exemplar. Durante as suas viagens, divertidas histórias aconteceram: o tempo passava sereno sem guerras no mundo, e o cantar dos grilos e os trilos noturnos de milhões de insetos ajudavam a caminhada… de tempos a tempos os lobos uivavam apressando a Camila o seu fogoso caminhar, suando o Rebeca percorrido de arrepios e de medos. Estávamos no ano de 1930 e, mais uma vez o Rebeca preparava-se para mais uma viagem de cerca de 8 kilómetros com a sua companheira habitual – a burra Camila. Um dia, de busto aprumado, fronte empinada, assobio de melro compositor, o Rebeca principescamente rompe caminho. Ao chegar perto de Mouçós, a Camila estacou firme no chão.

 

Colou-se! Recusou obstinadamente a sua marcha. Rebeca pensou, mas não lhe acompanhou o raciocínio! Meditava em notas dissonantes o que ia na cabeça do animal: “A viagem não acaba aqui, Camila!” vociferava em voz alta. De repente discorreu:” Já sei, a Camila quer música e não palha!” Na verdade, o animal, ferido na sua sensibilidade tinha razão. É que naquele preciso lugar o Rebeca tocava habitualmente no seu cornetim uma cadeia de notas, que não passavam despercebidas a uma burra que começava a ficar cada vez mais educada musicalmente. Depois da récita a cornetim, agora mais aprimorada, a burra aviou em pouco tempo o resto do caminho que lhe faltava percorrer. Na casa de ensaio, em Sanguinhedo, o Mestre era aguardado pelos músicos, montado na Camila, também ela orgulhosa de ter transportado tão ilustre figura.

                                                         

                                                                                                                                                                                                                                                                                 Adérito Silveira

 

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